segunda-feira, 9 de julho de 2007

Da pedra fundamental do eu

Não há nada, nem crença, nem remédio, nem meditação que mude a estrutura fundamental de uma mente. Embora relute em pensar tudo isso em termos de fisiologia e reações químicas, não há como escapar disso. Mas se inventamos uns deuses, se acreditamos piamente estarmos ligados individualmente aos astros, por que iríamos ser tão minimalistas? Não perco tempo sendo apregoador dessa verdade absurda, embora não escape pessoalmente dela, como um pequenino meteoro cujas forças impulsivas se tornam um lapso de nada perto da absurda gravidade de um buraco negro. Então, sendo mais claro, eu muitas vezes gostaria de acreditar no sublime além de mim, do criado e alimentado, que matasse meus cães rabugentos internos; mas a estrutura mental que se desenvolveu aqui dentro, numa argamassa de herança genética e cultural, e construção/deturpação cultural, simplesmente tanto bloqueia uma suposta luz, quanto me acerta em cheio continuamente com toda uma gama de sentimentos e pensamentos contraditórios... bondade e crueldade, sapiência e ignorância, ternura e brutalidade, tudo convivendo da mais difícil maneira possível, à beira da ruptura. E vou ficar, assim como tantos outros, na eterna dúvida se isso também sou eu ou minha criatura. O único alento que poderia ter, se brilhante fosse eu, está na frase recém lida: os loucos abrem os caminhos que os normais irão depois percorrer (acho que mudei algo, mas não a essência). Se identificar, um quase sempre pulha, com brilhantismo e ineditismo, protagonismo de algo realmente gratificante? O romantismo, nesse nível, deve ter morrido esmagado em algum incidente que não lembro.

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